Eu costumava ter medo do teu silêncio. Parecias calar a voz de uma forma natural e segura, enquanto por trás do meu silêncio-resposta havia uma infinitude de perguntas, inseguranças e teorias. Teu silêncio era incômodo. Eu ficava me perguntando se havia algo não-dito e se tua intenção era dizê-lo ou se eu precisaria continuar imaginando. Imaginava se tinhas algum segredo para me contar, se tinhas medo de me dizer algo, ou se tinhas alguma pergunta a fazer e imaginava também por que não fazias nada disso. Cheguei a achar ser falta de confiança tua e depois percebi que quem não confiava em mim era eu mesma. Não confiava em minha capacidade de te fazer feliz, não me considerava capaz de te fazer sentir seguro, não me achava digna de tanta atenção...
Hoje fico feliz com nossos silêncios. É aí que consta a verdadeira intimidade, é aí que consta o real sentimento de confiança. Hoje sei que, quando te calas, é porque não fazes questão de quebrar o silêncio, já não incômodo; é porque te sentes confortável de tal forma a crer na minha segurança quando ouço teu silêncio-resposta. Não busco agitar o ar acima de nós com ondas sonoras de perguntas desnecessárias, ao mesmo tempo que não evito fazê-lo quando intento a comentar, perguntar, compartilhar. Deitada ao teu lado, sentada atrás de ti, agachada por cima de teu corpo, recolhida dentro de teus braços e até mesmo aconchegada em teu silêncio.
E quando te silencias de forma rude ou magoada, sei que o fazes por me saber capaz de decifrar teu olhos gritantes e teu corpo expressivo. Por mais que me doa, lembro-me de antes, quando qualquer breve pausa era mais barulhenta dentro de mim do que teu som eletrônico berrante.
Obrigada por confiar em mim o suficiente para fazer silêncio.
E mesmo tendo escrito apenas sobre o silêncio, obrigada pelas palavras. Por todas elas.
Inclusive pelas três tradicionais.