Ouço a música de um piano que ninguém toca, acompanhada pela melodia da sua voz que não canta. Ouço os passos de seus pés que já não andam e te ouço bater à porta para pedir permissão de entrada com as mãos que já não te pertencem.
Eu também não pertenço.
Não pertenço mais a mim. Estou entregue a um passado que me liga ao presente através de ponte nenhuma. Estou entregue a um futuro que me engole numa solução de água, sal e expectativas. Me alimento de um sanduíche feito com pão integral, queijo e medo. Tento engolir o medo, mas ele entala em minha garganta e me sufoca. Sufoco nesse ônibus de janela fechada e sem ar-condicionado e com muita gente e eu sinto cheiro de suor e eu sinto cheiro de cecê e o suor desse cara do meu lado contaminou meu suor e eu já não identifico a diferença entre eles.
Talvez não haja diferença.
Nenhum comentário:
Postar um comentário