quinta-feira, 30 de junho de 2011

O cão tinha fome

Entrou.
O amarelo predominante do quadro acima da cama já havia desbotado. A essa altura combinava mais com o tom envelhecido das páginas de caderno sob a mesa de cabeceira. A persiana deixara de ser branca devido à poeira. Sobre a cama viu seu cachorro de pelúcia. Sentiu dor ao perceber que pedia ajuda. Seus olhos negros ainda estavam cobertor pelo excedente de pêlo e quase choravam de saudade. Ela o havia abandonado. Os títulos dos livros na estante próxima ao armário estavam ilegíveis. Alguns haviam caído e um deles cobria sua pantufa. Ao olhar no armário, pude imaginar as roupas em seu corpo. Chegando mais perto, pôde sentir seu cheiro. Ainda estava forte. Era um cheiro marcante. Fechou os olhos por um momento e desejou poder voltar alguns anos, ainda que por um segundo. Tudo aquilo fazia falta. Há algum tempo não ouvia sua voz. Só então percebeu que este tempo tornara-se grande o suficiente para que derramasse uma lágrima. A primeira desde a mudança oficial. Fechou os olhos novamente e, por um breve momento, sentiu alguém beijando-lhe o rosto. Sabia que estavam juntas. Ainda com dor, virou-se para trás e o cão parecia mais sofrido do que poderia imaginar. Preso à condição de pelúcia, sentiu o tempo passar, sem que pudesse se manifestar. Pegou o bicho no colo e apertou com força. O cheiro dela era ainda mais forte.
E saiu.

domingo, 26 de junho de 2011

Lá em cima

Lá de cima das nuvens
vi o céu mais estrelado
vi um mundo diferente.
Abaixo de mim muita luz
e, acima, estrela cadente.

Lá de cima das nuvens
vi o sol ir embora
para voltar depois de algumas horas
pelo lado oposto.
Senti o sol aparecendo
e demorou para esquentar mais do que pensei.
Como um carro a álcool
ou um sentimento recém-plantado.

Lá de cima das nuvens
vi o cheiro do sereno
enquanto ouvia o gosto das maçãs
vi a gaivota lá longe
e vi um papel voar sem rumo.

Vi as luzes oscilando
e algumas se movimentando,
vi meu amor instrumentando.

Vi o silêncio da paz que reina lá em cima
vi o fogo ser reacendido
daquilo que parecia inresgatável
como um amor quase vencido
depois de muitos anos louvável.

Vi que o homem deixa sua marca no mundo
Como o fogo que vira cinzas
Ou areia que suja os pés
Vi que a natureza é soberana a nós
Vi a lua brilhar contente
Mesmo quando o fogo do sol já queimava a gente.

Vi como é bom dormir na pedra
E vi como nada se perde
Cantei músicas que achei ter esquecido
E vi que não esquecemos
daquilo que realmente gostamos

Porque lá em cima é um mundo diferente.

Araras, 25 de junho de 2011

sábado, 18 de junho de 2011

dez regras para Seres humano.

por Cherie Carter-Scott

1- Você vai receber um corpo. Pode gostar ou amar, mas é seu e deve mantê-lo o período inteiro.

2- Você vai aprender. Você se encontra em uma escola de horário integral chamada Vida.
3- Não existem erros, apenas lições. Crescimento é um processo de tentativas, erros e experimentações. As tentativas "falhas" fazem parte do processo tanto quanto as que, teoricamente, "dão certo".
4- Lições são repetidas até que você as aprenda. Elas vão se apresentar para você em diversas formas até que aprenda. Depois de aprendê-las, pode ir para a próxima lição.
5- Lições de aprendizagem não acabam. Não há um momento de sua vida onde não haverá lições; se você está vivo, é porque ainda há lições a serem aprendidas.
6- não é melhor do que aqui. Quando o seu se tornar aqui, você simplesmente encontrará outro que se tornará melhor do que aqui.
7- Outras pessoas são meramente espelhos seus. Você não pode amar ou odiar algo em alguém a não ser que reflita algo que você ama ou odeia em si mesmo.
8- O que você vai fazer da sua vida está em suas mãos. Você possui todas as ferramentas e recursos que precisa; o que vai fazer com eles só cabe a você decidir. A escolha é sua.
9- As respostas estão dentro de você. As respostas às perguntas da vida estão dentro de você. Tudo que precisa fazer é olhar, ouvir e confiar.
10- Você esquecerá de tudo isso e terá que aprender quando estiver na Vida.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

t.s.m.

AMOR MAIOR DO MUNDO!!!!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O medo

A corda estava colada em meu corpo, contornando meu perímetro por completo. Quanto mais eu ouvia, menos eu pensava, mais eu sentia e menos respirava. Ela desfez o contorno e se dirigiu em "movimento-geleira" até minha boca. Quando vi, já estava amordaçada e aquilo me impediu de falar. Antes que pudesse tomar medidas para mudar a situação, a corda já estava em meu pescoço e, circulando, meu desespero só apertava mais a corda, que me deixava mais desesperada, apertando-a ainda mais e etc. Até que seus braços me convidaram e pude senti-la desafrouxando e voltei a respirar mas, dessa vez, entre soluços.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Memória seletiva

Sobre a mesa o colar vermelho enroscado numa xícara de chá cheia até a metade, antes de tudo desabar, antes da porta ser destruída e nos deixar desprotegidos, antes também da enchente nos abalar e até mesmo antes da goteira ter início.

Ainda sinto o gosto do chá.

/vi o céu

vi o céu adormecer,
enquanto o sol se despedia,
selando com o mar um beijo demorado
em um degradê incomum.

a lua, prateada, surgiu por trás
banhando o oceano com seu manto de luz
e cobriu o esperado breu da noite
com seu pano de seda suave e invisível.