sábado, 3 de março de 2012

Vem!

Você falou no meu ouvido surdo
E eu não ouvi
Achei que você não tava
E nem sei o motivo...

Vou dormir porque a rua me chama.

Caminhos

Ouço a música de um piano que ninguém toca, acompanhada pela melodia da sua voz que não canta. Ouço os passos de seus pés que já não andam e te ouço bater à porta para pedir permissão de entrada com as mãos que já não te pertencem.
Eu também não pertenço.
Não pertenço mais a mim. Estou entregue a um passado que me liga ao presente através de ponte nenhuma. Estou entregue a um futuro que me engole numa solução de água, sal e expectativas. Me alimento de um sanduíche feito com pão integral, queijo e medo. Tento engolir o medo, mas ele entala em minha garganta e me sufoca. Sufoco nesse ônibus de janela fechada e sem ar-condicionado e com muita gente e eu sinto cheiro de suor e eu sinto cheiro de cecê e o suor desse cara do meu lado contaminou meu suor e eu já não identifico a diferença entre eles.
Talvez não haja diferença.

Alergia


Eu lembro de tentar te pegar
como eu faço agora
mas antes eu conseguia
e você virava o pegador
agora eu pego poeira
que me dá alergia
me faz espirrar, lacrimejar
chorar...

quinta-feira, 1 de março de 2012

Pra acalmar

Vim aqui te avisar que é bom crescer.
Nessas horas em que você está sozinha, você acaba aprendendo tanta coisa sobre si mesma...
Aprende a respirar fundo.
Aprende a se distanciar dos seus sentimentos. Quando eles estão prestes a transbordar você os olha de longe, como se não houvesse identificação e deixa-os enterrados no buraco mais fundo que você pode cavar.
Aprende a aproveitar o silêncio.
Tenta se desprender daquilo que você acha que é... Só assim vai poder descobrir um outro jeito de existir. Abre mão desse conforto estagnado do suposto autoconhecimento... É cedo demais pra isso! É tarde demais pra isso!
Você não é assim, você não é assado. Você nunca vai ser!
Não precisa prender, mas também não precisa inventar o que soltar...
Não precisa ter medo dessa hierarquia que inventaram. Vocês são tanto quanto eles são.
Fala de igual pra igual.
Olha no olho.
Não se deve ter medo da própria sinceridade.
Agora desenterra os sentimentos que te mandei enterrar ali no começo. O chão é sua base; se você deixar os sentimentos enterrados, eles estarão te sustentando...
Sai dessa!
Desenterra esses sentimentos e transforma em vento...
Em cor de vento!
Aí eles voam e você pode voar também.
Porque o chão é sua base, mas o céu não é seu teto!

o problema da nudez

Dizem ser indecente
o seio à mostra
mas nada dizem a res
/peito
do olhar acinzentado
que chove no asfalto...

tanta beleza no nu e reclamam!
ora, não entendo
o corpo é o mesmo para todos
e querem escondê-lo...
cambada de hipócritas!

como dói (ai!!!!!!)
esbarrar por acaso
/caso
com um olho triste
que perambula por aí
quase alheio e independentemente
/mente
do corpo

cambada de hipócritas!

buraco

Destampa teu corpo
e teus olhos
e tua boca pudica...

quero te ver inteiramente!
tira essa máscara!
quero ficar a sós
com quem realmente és...

Ambiguidade na leitura do poema

Depois de ler cada palavra,
depois de tentar diferentes entonações
encontrou uma que agradava:
o poema conseguiu me ler até de trás pra frente.