quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Quero

Quero sentar numa estrela
E pintar as cores das palavras
Que se transformam em lágrimas
Neste canto de sossego e harmonia
A cantar pelas declarações
Da saudade pulsante no peito,
Cintilante no olhar
Sempre lembrando e ansiando
Pelo reencontro.

Quero sentar numa árvore
E aprender com os pássaros
Expressões melódicas da emoção libertária
Que se tem ao levantar voo.
Aí, então, passaremos sobre vales e montes
Dizendo, de outra forma, que não cores,
Palavras e lágrimas, do Amor incessante.

Quero deitar numa nuvem
E conversar com ela sobre seus possíveis formatos
Ela me dirá, aí, que sua forma é toda e qualquer
A qual queiramos que seja.
Aprenderei, assim, que os olhos veem
Aquilo que querem.

sábado, 20 de novembro de 2010

Estátua

Estava sentada
e olhei para cima.
As nuvens se mexiam
sobre minha cabeça.
O resto permanecia inerte.

Veio, então, uma borboleta,
Tão azul quanto o mais límpido céu
E pousou em minha perna.
A partir disso, tudo pareceu viver.

As flores sorriam,
as árvores dançavam,
os pássaros cantavam
e eu, em sintonia com a borboleta,
vivia.

domingo, 3 de outubro de 2010

Tudo

Dentro de mim há um tudo.
Um tudo que não tem definição. Um tudo que é alguma palavra jamais pronunciada em língua nenhuma. Um tudo que, ao olhar para dentro, vê grandeza o suficiente em si mesmo, a ponto de saber de sua essência, ainda que não a conheça; ela o é apenas reconhecida enquanto existente. E esse mesmo tudo se vê insignificante ao olhar para fora e crer na infinitude celeste. É um tudo incompreensível que se manifesta dentro de mim quando sinto o vento no rosto, quando mato as saudades de quem amo, quando vejo o amor em situações inimagináveis, quando renovo minhas energias num banho de mar... Um tudo que está dentro de mim, e reconhece sua sinceridade de uma forma que só ele é capaz. E esse "tudo" é quase nada em sua humildade, mas, ao mesmo tempo, é do tamanho do inexplicável.

sábado, 11 de setembro de 2010

1

"Nobody has ever measured, not even poets, how much the heart can hold."
Zelda Fitzgerald

Pode ser...

Um sorriso pode ser espontâneo, descontrolado, secreto, misterioso, engraçado, significativo ou sincero...
Um olhar pode ser assustado, sapeca, morto, confuso, suplicante, mentiroso, transparente ou alegre...

Um toque pode ser ansioso, forte, decidido, receioso, delicado ou arrepiante...

Um beijo pode ser suave, apaixonado, de despedida, saudoso, emocionado, maternal, proibido, amigável ou decisivo...

Uma lembrança pode ser antiga, recente, feliz, já quase esquecida, emocionante, gostosa ou triste...

Uma palavra pode ser no singular, já esperada, mascarada, sozinha, definitiva, no plural, que muda tudo, em voz baixa, fora de contexto, surpreendente, em conjunto ou gritada...

Um silêncio pode ser quebrado, sob dúvidas, infinito, autoexplicativo, constrangedor ou sobre dúvidas...


Agora... uma lágrima?

Pode ser tudo isso.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

"Muito longe de casa"


Trechos do livro Muito longe de casa: memória de um menino-soldado, de Ishmael Beah, publicado pela editora Ediouro em 2007. (SUPER RECOMENDO!)

"Uma noite, sentado na praça de uma aldeia, pensando no tanto de caminho que eu já havia percorrido e no que ainda tinha à minha frente, olhei para o céu e vi como as nuvens maiores tentavam encobrir a Lua, e como, apesar disso, ela reaparecia de novo e de novo para brilhar durante toda a noite. Minha jornada, de certa maneira, era como a Lua - apesar de eu ter nuvens bem mais pesadas em meu caminho para entristecer meu espírito".

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"À noite parecia que caminhávamos junto com a Lua. Ela nos seguia sob nuvens densas e esperava por nós do outro lado das trilhas em florestas escuras. Desaparecia com o nascer do sol, mas sempre voltava a pairar sobre nosso caminho na noite seguinte. Seu brilho tornava-se mais sutil conforme as noites passavam. Certas noites o céu era varrido por estrelas que flutuavam e desapareciam rapidamente na escuridão antes que nossos desejos pudessem encontrá-las. Eu costumava ouvir histórias debaixo daquelas estrelas e do céu, mas agora parecia que o céu é que nos contava histórias enquanto suas estrelas caíam, colidindo violentamente umas contra as outras. A Lua havia se escondido detrás das nuvens para não ver o que acontecia".

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"Andamos rápido, como se tentássemos permanecer no dia, com medo de que o cair da noite virasse algumas páginas incertas de nossas vidas".

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Poesia a um poeta.

"ANJO DA VELHA GUARDA

Vivizinha, minha neta,
Bochechinha de carmim
És uma flor bonitinha
Que nasceu no meu jardim.

És a bela borboleta
Que esvoaça no meu céu
Vais crescer moça tão linda
De se tirar o chapéu...

O Vovô não sabe ainda
Quantos anos vai viver
A vida da gente finda,
Só não se sabe por quê

Quando partir desse mundo,
Uma coisa eu decidi:
Não podendo estar contigo,
Ficarei de olho em ti..."


Falcão, Paulo Waldemar. O cristalino espírito da vida. Rio de Janeiro: Editora Elevação, 1999

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ALMA DE PAPEL
Na alma deste papel molhado,
Reside a saudade de ti,
Vovô querido.

Na alma deste papel amassado,
Reside o orgulho de ser tua neta,
Vovô amigo.

Na alma deste papel guardado,
Reside a lembrança, querido Vovô amigo
Do cristalino espírito de tua vida.

Paty do Alferes, RJ - 05 de junho de 2010

Ser ou não ser? Eis a questão.

O que foi,
foi.
O que não foi,
não foi.
O que não é,
talvez venha a ser.

O que foi,
não deixará de ter sido.
O que não foi,
não virá a ser.
O que não é,
continua não sendo
até que seja.

Sonho espatifado...

Uma poça d'água.
Elas faziam questão de permanecer ali, juntas, no chão de madeira, formando uma poça d'água. Certamente estavam ali para me lembrar que haviam sido derramadas, que isso teve motivo e que eu não fui forte para lidar com (mais) aquele problema. Saí dali decidida a não lembrar novamente da dor que estava sentindo. Sentei-me no sofá e, enquanto procurava pelo controle remoto, caí em mais uma armadilha. Tudo estava armado, não era possível.

Um porta-retrato.
Cinza, com um coração vermelho na ponta superior direita e outro igual, do lado oposto. Vazio, deixando claro que estava ali só para se mostrar desocupado, certamente para me lembrar da foto que antes ali estava. Eu quase conseguia ouvir risadas perversas das lágrimas que voltaram a descer pelo meu rosto, como se dissessem "a poça ficou lá, mas nós viemos com você". É lógico que ao lado do porta-retrato havia uma foto. De cabeça para baixo. Rasgada ao meio. Irritada, empurrei aquele objeto opaco e sem vida, certa de que isso faria com que ele fosse apagado de minha memória. Pude ouvir o vidro se quebrando e preferi não olhar para os restos mortais espalhados pelo chão de minha sala. Desviando o olhar, fui à cozinha beber um copo d'água. A pia estava cheia de louça, evidenciando a bagunça similar a do resto da casa. Nenhum copo limpo, optei por uma caneca. No armário, a única caneca que estava ali era aquela. Só uma. Me encarando. Esperando me fazer sentir fracassada qualquer fosse minha atitude. "USO EXCLUSIVO DA PESSOA MAIS AMADA DO MUNDO". Eu não poderia usá-la. Não era a pessoa mais amada do mundo. Não era sequer amada, que dirá a mais amada do mundo.

Um grito.
Foi o que eu consegui fazer; soltar um grito. Com toda a minha força, com todo o meu ódio, com toda a minha tristeza e, acima de tudo, com todo o meu amor. Um grito que doeu a garganta, e minhas cordas vocais reclamaram. Num relance, arranquei a caneca de onde estava e a taquei no chão com toda a minha vontade. Aquilo foi satisfatório. Estranhamente satisfatório. Procurando mais coisas para quebrar, olhei para a pia ao meu lado e decidi jogar tudo. Jogava cada objeto sem segurar o grito. Pude ouvir o interfone tocar e arremessei um prato que pegou em cheio. O fone ficou pendurado e continuei minha sessão de terapia alternativa. Estava começando a achar divertido, quando ouvi batidas à porta. Não. Não podiam me ver naquele estado; perdedora, chorando, irritada e com a perna sangrando devido a alguns cortes de estilhaços que voaram em mim. Chamavam pelo meu nome e a força aumentava gradativamente. Eu precisava de uma solução. Ao meu redor, procurava desesperadamente por um método rápido que justificasse o fato de eu ignorar aos chamados. Continuavam a bater. Vasculhava gavetas, revirava armários, e só encontrava panos. Um enforcamento seria complicado de arranjar àquela altura do campeonato. Continuavam a bater, eu suava e já nem sentia os cacos sob meus pés perfurando-me intensa e rapidamente. Apenas via minhas pegadas sangrentas sendo deixadas no chão. Esmurravam a porta. No chão, tudo o que restava, além dos pedaços da louça quebrada, era uma faca de carne.

Uma faca.
Foi tudo o que consegui ver. Como se estivéssemos em um filme Hollywoodiano, e eu e a faca tivéssemos nos apaixonado à primeira vista. Todo o resto desapareceu e sorríamos uma para a outra. Andei em direção a ela, gargalhando. A faca também parecia estar satisfeita, por cumpriria sua obrigação. Ainda ouvia pessoas chamando por mim e pareciam realmente preocupadas. Patéticas. Passei a lâmina delicadamente por meu dedo e pude sentir que estava afiada. Olhei o cômodo em que estava e concluí que, ainda depois de tudo, eu era digna de uma morte decente. Fui até minha varanda, que me pareceu limpa, organizada e propícia à ocasião. Suspeitei que estivessem tentando arrombar a porta. Olhei para fora. No prédio em frente, alguns andares abaixo do meu, havia um casal na janela. Ela fumava e ele estava sem blusa. Fiquei olhando para eles por um tempo. A mulher sorriu, eu retribuí. O vento começou a se manifestar e me senti confortável como nunca. Senti-me leve e desisti de colocar em ação meu plano. Virei-me para abrir a porta aos interessados e convidá-los para entrar, afinal, ainda estavam tentando. A faca ainda estava em minha mão. Sorri sozinha quando percebi o desapontamento dela. Eu estava bem. Estava mesmo. Mas a sala não deixava dúvidas. Vivia naquela casa uma pessoa frustrada, abandonada que de nada serviu e de nada serviria. O porta-retrato quebrado ainda estava no chão. O sangue ainda estava espalhado. A foto ainda estava rasgada. A lembrança ainda estava viva.

Uma lembrança.
Era tudo o que eu tinha. Era tudo o que eu continuaria tendo se não fizesse o necessário. Até porque, só teria aquela lembrança. Não poderia vê-la, apenas percebê-la. Não poderia segurá-la, apenas senti-la. Não poderia desistir. Apenas continuar. Retornei para a varanda e soltei um berro. Como aquele primeiro. Mas não um berro desesperado. Este era decidido e se despedia. A faca, que a essa altura já havia entendido o que aconteceria, estava animada. Pude senti-la cortando meu tecido eptelial. Ouvi o grito de horror do casal da janela e os infelizes do lado de fora continuavam esmurrando a porta. Não esperando que eu a abrisse; tentavam arrombá-la. Senti cheiro de sangue e queria mais. Rasguei-me e berrei novamente, satisfeita. Meus sentidos se misturavam e já não conseguia distinguir o branco do preto. O torpor me dominava e eu não tinha mais controle sobre meus movimentos. Tudo o que via era sangue. Sangue vermelho escarlate, espalhando-se ao meu lado. Não enxergava bem, mas pude perceber que a porta havia sido aberta. Muitos entraram, mas eu só senti a presença de uma pessoa.

Uma pessoa.
Era tudo o que percebia, além de chamas incessantes por dentro. Alguns gritavam, mas só ouvia seu choro e sua voz. Você dizendo pra eu lhe responder. Eu queria, juro que eu queria. O problema é que não cabia mais a mim essa atitude. Você segurou minha mão e um choque percorreu meu corpo. Ouvi seu sussurro "Eu te amo...". Agora. Só agora. Depois de meses esperando por isso, só agora eu ouvi. Agora. Quando eu já não podia mais voltar atrás. Quando a decisão havia sido definitiva. Quando eu não podia lhe responder que o sentimento era recíproco. Não há nada mais triste do que isso: um sonho espatifado no chão, dividido em pedaços que, separados, são incoerentes. O sonho, as medidas para que ele se realize, as dificuldades encontradas, os caminhos desviados, e, ao final, a realização de um sonho. Tudo isso ao meu lado, traduzido em um sangue vermelho escarlate, que me negava a realização.

Uma poça d'água...
Um porta-retrato...
Um grito...
Uma faca...
Uma lembrança...
Uma pessoa...

O fim de um sonho.
O fim de uma vida.

Insatisfação

Não gosto de mudanças.
Detesto a inércia.

Não gosto do amor.
Detesto o ódio.

Não gosto de animais.
Detesto seres humanos.

Não gosto de som.
Detesto o silêncio.

Não gosto de doce.
Detesto salgado.

Será que alguma coisa nesse mundo é boa o suficiente para me satisfazer?

Inspirada em conhecidos(as).

Ter ou não ter? Eis a questão.

Não tenho nada,
e tenho medo de perder
tudo.

Não tenho nada,
e tenho ideias para
quando tiver alguma coisa.

Não tenho nada,
e tenho pensamentos
que vão e vêm com o ar.

Não tenho nada,
e tenho a vida,
dela eu faço o que quero.

Não tenho nada,
e tenho medo
e tenho ideias
e tenho pensamentos
e tenho a vida.

Tenho. Tenho muita coisa.

Passa, passa, assa, passa...

Passatempo
que passa
o tempo.

Passatempo
com ou sem
recheio.

Assatempo
que o faz
cozido
ou frito.

Passatempo
que não passa,
nem amarrota.

Tempo que passa
Recheado, ou não
Cozido, frito,
Amarrotado
Ou passado.

No fundo, não importa,
Contanto que passe.

De sonhos à...

Realizações.
As baseadas em sonhos
Frustrações consigo trarão;
Sempre imperfeitas hão de vir.
As baseadas em dificuldades
Fazem luz na escuridão;
Sempre hão de te fazer

Sorrir.
Um ato tão singelo;
Purific'alma
Quando sincero.
Te livra da queda,
Evita o sofrimento
Não há gesto tão

Bonito.
É tudo aquilo
Que aos olhos agrada.
E se aos olhos
Não satisfaz,
De satisfazer o coração
Seria

Capaz?
Sim, você é.
Somos todos.
Passaremos por isso

Juntos.
Todos juntos,
somos forte.
Somos capazes de
fazer o quisermos.
De sonhos à...

Realizações.

In wonderland...

levanto. olho ao meu redor e um sentimento singelo toma conta de mim. ando lentamente pelo caminho de Terra que leva ao pomar. descalça, posso sentir a maciez aveludada do barro sob meus pés. ao andar, vejo uma Família, sentada, protegida pela sombra gentilmente cedida por uma árvore. Pai e Mãe sorriem estarrecidos, admirados com a pureza de seu bebê e surpresos com a novidade que sentem ao olhar para aquela criança tão miúda e, ao mesmo tempo, capaz de lhes causar o sentimento mais forte que já puderam experimentar. sorrio para mim mesma e continuo andando.

visualizo um lago extenso à minha frente. vou andando até que meus pés possam sentir a Água gelada purificadora. respiro fundo, de olhos fechados, e resolvo mergulhar. minha Energia renasce, passo a sentir intensamente cada parte do meu corpo, e todas ela agradecem por estarem em contato com o que há de mais puro. renovada, fico um tempo observando aquela paisagem. o Sol nascente reflete na Água cristalina, seus raios penetram por entre as Nuvens gordas e brancas que me chamam para brincar. num ímpeto, começo a andar pela Areia rente à Água. meu andar calmo e sereno torna-se uma corrida e, sem que eu pense ou decida, pulo com muita vontade de não tocar o solo novamente e começo a seguir em direção às Nuvens.

posso sentir o Vento contra meu rosto e as Nuvens sorriem à medida que me aproximo. sento-me em uma delas, que sustenta todo meu peso. balanço meus pés e, de olhos fechados, aprecio a melodia do Silêncio. lembro-me do pomar, despeço-me das Nuvens e retorno para chão. sinto-me pequena inserida na Imensidão Infinita que me rodeia. andando com a mesma calma habitual, chego aonde queria e saboreio das mais diversas frutas. satisfeita, vejo o Gramado, que a essa hora já reflete a luz do Sol em seu verde agradável, me convidar para um descanso merecido. uma Música celestial começa a tocar, sem que eu localize sua origem. fios dourados entrelaçam-se em minha mente e percorrem, na velocidade da Luz, o caminho para a Eternidade. percebo, então, que tudo isso, por mais simples que seja, me completa. neste lugar, neste momento, sinto-me inteira, completa e Viva.

SEM TÍTULO

Nomenclaturas e títulos
Trazem consigo códigos de barra
Que definem e, consequentemente, limitam
Proibindo, assim, as coisas de serem o que querem.

As diferenças não existem,
muito menos as semelhanças.
Como fazer disso coerente?
Sendo.

Quais as diferenças
Entre uma rosa e uma margarida?
Diversas.
Quais as diferenças
Entre uma rosa e outra rosa?
Muitas.
E, apesar das diferenças,
São chamadas do mesmo modo.

Não há nada igual,
tudo é diferente.

sábado, 29 de maio de 2010

Antítese

Acordei com a luz do sol. Olhando pelas frestas da cortina, resolvi que seria conveniente abrir a janela. Tudo no meu jardim brilhava, quase parecendo ouro. A harmonia entre as plantas e os animais era tão intensa que pensei se tratar um sonho. Apoiada no parapeito, reconheci a tal borboleta. Ela se aproximou, deu três loopings no ar e pousou ao lado do meu dedo. Resolvi não me arriscar; sabia que qualquer movimento precipitado a faria fugir. Deitei-me novamente na cama e fiquei a observar aquele inseto tão belo e ao mesmo tempo tão delicado... Fechei os olhos e me vi abraçada com você, sentindo seu cheiro e acompanhando seu batimento cardíaco. E, de repente, meus ouvidos captaram um ruído: barulho de chuva, sem dúvida. Do nada? Tudo tão perfeito e chega a chuva do nada? Estranhei e, vendo que a borboleta estava sendo atingida pelos respingos, concluí que seria melhor tirá-la dali. Por impulso levantei-me rapidamente e talvez isso a tenha assutado. O susto fez com que ela decolasse. Voou e pousou na parede da frente, uma distância de, aproximadamente, 1,50 m. Esperei alguns instantes na expectativa de que ela retornasse para proteger-se da chuva mas lá ficou. Então, fechei a janela. Deitei mais uma vez na cama e fiquei ouvindo o barulho das gotas caindo no chão. Ficavam cada vez mais fortes e altos e logo vi que era uma tempestade. O melhor que tinha a fazer era esperar passar. Esperei. Esperei. Esperei. A borboleta não saía de minha mente. E em questão de minutos fez-se silêncio novamente. Ainda escutava algumas gotas que provavelmente caíam da telha e batiam no ar-condicionado. Mas não contive a ansiedade e abri a janela à procura da borboleta. Lá estava ela, intacta, mexendo as asas sem sair do lugar. Olhando cuidadosamente notei que uma de suas asas estava rasgada na ponta. O que eu realmente queria era capturá-la para que ela tivesse os devidos cuidados. Ao alcance da mão e ao mesmo tempo tão distante... Passara a tempestade, mas por que o Sol insistia em não aparecer?

Tic tac, tic tac...

O tempo passa. Ainda que você não queira, ele passa. Aquele momento que, pelo bem-estar que te causou, devia durar para sempre, vai embora. A paixão de um casal começa a se desgastar. Qualquer coisa vira motivo de briga e a paciência se esgota. A festa dos sonhos está cada vez mais perto de acabar, a música de parar, as pessoas de dançarem. Esses momentos acabam e depende única e exclusivamente de você aproveitá-los ao máximo, ou não.

O tempo passa.
Ainda que você duvide muito, ele passa. Os minutos finais antes do sinal tocar que parecem não chegar nunca, estão cada vez mais perto. Os segundos à espera de alguma notícia passam, mesmo que cada um deles pareça uma martelada no coração. A dor, junto com tempo, também passa, dor de namoro, dor de saudade, dor de machucado ou dor de dor... Vai embora, podendo regressar ou não.

O tempo passa.
Ainda que você não perceba, ele passa. Você envelhece, conhece gente nova, a moda vira ultrapassada, e suas ambições mudam. Pois é, junto com essa passagem de tempo vêm as mudanças. Boas ou ruins, visíveis ou não, vão chegar alguma hora. E nós temos de saber lidar com elas, enfrentá-las de cabeça erguida, preparados para o pior, mas com o otimismo guiando as ações.

O tempo passa. É da natureza dele fazer isso. Plantas fazem fotossíntese, peixes nadam e o tempo passa. Seja medido em segundos, dias, meses, anos, gerações ou eras, ele está passando de alguma forma e você nem ninguém pode impedi-lo. O melhor a se fazer é parar de querer lutar contra, como se fosse um inimigo, e torná-lo seu aliado. Até porque, o tempo faz coisas incríveis. A curto ou a longo prazo, essas coisas terão um efeito positivo sobre a sua vida, seja ele qual for.

O que me irrita em você?...

O que me irrita em você? Não sei, tem bastante coisa. Talvez o fato de você ter um ímã que atrai meus olhos, inevitavelmente. Mas eu sou o lado positivo do ímã, e você o negativo. Só estragou minha vida. Só penso em você. Não como direito, não durmo direito, não estudo direito, não me divirto direito... Outra coisa que me irrita bastante em você é esse seu charme, que faz com que eu me derreta toda quando você fala comigo. E fique GELADA de raiva quando você joga todo esse seu charme, que deveria ser exclusivamente pra mim, em outra garota. Quem sabe esse ódio que eu tenha de você se originou nas suas mentiras. ‘Te amo, você é linda’. Linda... Sei... Linda vai ser a mancha roxa que vai ficar no seu olho se chegar aos meus ouvidos que alguma Outra ouviu isso. Ou então lindas vão ser as marcas vermelhas de batom pelo seu corpo todo caso eu ouça isso de novo. Eu te odeio também por você ser tão bonito e isso fazer com que todas as Outras te queiram também. Assim como eu, mas não tanto quanto. Mas o que eu mais odeio em você, é seu amor. Meu amor. Nosso amor. A vida com você. A vida sem você. Por quê? Porque eu simplesmente não consigo imaginar meu ano se eu não tivesse te conhecido. Em quem eu iria pensar quando fosse dormir? De quem eu falaria bem todo dia? De quem eu falaria mal todo dia? Que cheiro me deixaria louca todo dia? Quem seria o dono do meu coração? Quem tomaria minha mente nos momentos mais inesperados? Acho que só existe uma resposta para essa pergunta. Você sabe tão bem quanto eu que essa pessoa é um de nós. E como eu não sou egocêntrica, só sobra você... Talvez por isso eu te odeie.
Mas o meu amor supera o ódio. O meu amor supera você.
O meu amor me supera. O meu amor supera barreiras. E me foge ao controle esse amor. Oops, esse ódio. É isso mesmo, ódio. Você realmente achou que eu queria dizer amor? Não seja tolo, eu não te amo. Não seja tolo, você não é ninguém. Não seja tolo, eu não sei mentir. Não seja tolo, você é tudo pra mim.

Instinto feminino

É um conforto que não tem definição, como se um instinto me dissesse que, no futuro, estaremos caminhando lado a lado, de mãos dadas e corações unidos. Nos renderemos à dependência mútua e desaprenderemos a andar desacompanhados. Minha mão ansiará sua ausência e, num toque inesperado, sua pele macia e quente fará com que meu coração volte ao compasso normal. Seus lábios entrarão em contato com os meus e, como de costume, vou perder a noção de espaço e tempo. Porque estando ao seu lado, nada disso importa. Contanto que seja o seu lado. Sempre.

"Bleeding Love"

E isso dói. Dói muito. É uma dor que rasga sem piedade. Cortes profundos e intensos, que conseguem atingir a parte mais inalcançável do meu corpo. Feridas que nunca saram, coágulos que nunca se formam e dores incessantes. Escrevo seu nome com fagas pontiagudas em minha pele branca, derramando lágrimas incontroláveis. Até que a decisão definitiva seja tomada. Nós sabemos qual é, eu só não tenho coragem de pô-la em prática. Por enquanto.
Afinal, deve ser muito mais fácil do lado de lá, não deve?

Causa e consequência

O amor é a causa.
Não se culpe se estiver amando, isso é um sentimento que faz sorrir cada parte do corpo, dá um brilho incontestável aos olhos e contagia todos ao redor. Ame sem fazer disso uma obrigação, ame por vontade própria. E não adianta lutar contra, se isso é mais forte que você, ame com todas as suas forças. Não tenha medo de parecer tolo, todos os amantes andam com um sorriso idiota no rosto. Amar é muito bom e sentir-se amado te faz querer amar mais ainda. É melhor do que qualquer remédio, até mesmo rir, ou o tempo em sua forma mais indecifrável.
Enquanto estiveres amando, seu sorriso não há de caber no rosto e o universo vai parecer estar conspirando ao seu favor. Tudo vai parecer mais belo, mais fácil e mais feliz. Amar te incentiva a dar o melhor de si. Te faz querer que a pessoa amada tenha orgulho de você.
O amor é a consequência.

Amor matemático

1 + 1 = 2.
Engraçado, olhando assim, essa conta parece tão simples. Mas por quê não dá certo? Ele gosta dela. Ela gosta dele. Ambos sabem disso. Mas não estão juntos.
Por quê?
Ah, sim! Porque o amor muitas vezes contradiz a matemática; nem sempre 1 + 1 = 2. De vez em quando cisma em aparecer o sinal da divisão e você tem que dividir aquele 1 por 2. Então, mais uma vez entrando em contradição, 1 + 1/2 = 0.
Você refaz a conta diversas vezes, mas usa a caneta, que dá mais estabilidade para escrever. E não pode apagar. Portanto, o melhor que você tem a fazer é virar a página. Virar a página e fazer outra tentativa. Mas depois de um tempo você percebe que o segredo não é ignorar as contas anteriores, e sim, ver aonde foi o erro, para tentar não cometê-lo novamente. Porque, no final, você vê que cada erro tem uma importância única naquele processo para chegar ao 2.
Você refaz a conta outras tantas vezes, tentando encontrar algum erro, algum sinal que tenha passado despercebido, ou algum sinal que você não tenha dado tanta importância. E tem dias que você não sai do zero de jeito nenhum.
Mas chega um momento que aquele 1 lá do começo, que se dividiu por 2, desiste dessa ideia forçada e volta a ser ele mesmo. Simples e único.
É nessa hora que vocês percebem que 1 + 1 = 1. E aí sim, por mais errado que pareça, vai estar tudo certo.

Def.: sm

O amor? Uma palavra sem definição exata que tenta definir o indefinível.

Paixão x Amor

A paixão condena, o amor perdoa. A paixão excita, o amor acalma. A paixão quer muito, o amor quer bem. A paixão tem hora, o amor tem tempo. A paixão exige atenção, o amor exige paciência. A paixão quer agora, o amor quer para sempre.

Intradutível

Carregada por nossa língua, e sem tradução literal, a saudade existe, e habita o vazio. Saudade de um cheiro, saudade de uma pessoa, saudade de um lugar, saudade de um sentimento, saudade de um objeto, saudade de uma flor, saudade de sentir saudade. Saudade. Não importa o motivo, ela está ali, te cutucando. Ela constrói a dor do coração, faz queimar as lágrimas que escorrem e pulsar o sangue das feridas abertas, que nunca saram.

O começo...

Oficializo aqui a inauguração de um projeto que me custou tempo para ser realizado.
Devo confessar que não tenho hábito de entitular ou datar meus textos e isso pode vir a ser um problema. Mas vou (tentar) dar um jeito. Não pretendo vir com frequência, portanto, não sinta-se abandonado.
E se tem uma coisa que eu achei muito difícil durante todo o trabalho, foi escolher um nome. Fiz uma lista com nomes possíveis e nem todos tinham algum porquê específico, apenas simpatizei. Talvez tenha optado por Olhos que transbordam por um motivo bem simples: sou muito sensível. Tudo pode ser transbordado pelos olhos, afinal, como dizem por aí "os olhos são as janelas da alma". Não necessariamente precisam vir lágrimas. O brilho de um olhar, o sentimento que ele te passa, a confusão que ele demonstra ou as frases que ele traduz... Nenhum sorriso é convincente, se não estiver refletido no brilho dos olhos. Nenhuma jura é aceita, se a verdade não estiver explícita neles.

Para bom entendedor, um olhar basta.

Meus olhos transbordam. E os seus?